Por Gabriel Santana
– Um projeto da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB) está criando um arquivo virtual para preservar documentos que contam a história das comunidades da região Sul e Extremo Sul da Bahia, em Porto Seguro (BA). “Vamos atrás de pessoas e de acervos pessoais delas, como fotografias e cartas”, explica Fabiana Pataxó, discente voluntária que atua no projeto.
O grupo de pesquisa Memórias do Sul da Bahia atua desde 2022 com o objetivo de preservar a história dos povos indígenas. O projeto já conta com um repositório virtual (https://memoriasulbahia.com.br/) e planeja, em breve, construir um acervo físico. Os pesquisadores pretendem disponibilizar documentos de caráter histórico, etnográfico, linguístico, jurídico, entre outros.
“Os documentos ficam no site para qualquer pesquisador. Por exemplo, os pesquisadores não vão precisar vir aqui a Porto Seguro para saber a relação do povo Pataxó com a guerra, pois já vão encontrar essas informações no site”, explica Fabiana.
Fabiana também comentou sobre como obtêm as informações para o Centro Digital de Documentação e Pesquisa Memórias do Sul da Bahia: “Vamos atrás de pessoas e de acervos pessoais delas, como fotografias e cartas, seja sobre a guerra ou outros momentos históricos vividos pelos indígenas na cidade”. Além de documentos relacionados aos povos indígenas, o centro conta com outras coleções, relacionadas aos terreiros da região e às memórias quilombolas no Sul da Bahia, entre outras.
Indígena da região da Aldeia Velha, Fabiana Pataxó destaca a importância do site para os povos da região. Na opinião dela, a plataforma dá visibilidade às obras feitas pelos indígenas: “O povo Pataxó tem muita gente formada, tem mestres e doutores com teses e artigos escritos, mas que nunca publicaram e acabam se perdendo. Tendo essa plataforma, que é um meio de guardar essas informações, outras pessoas poderão ver nossa história e ponto de vista”.
A discente, que também cursa antropologia na UFSB, explicou por que escolheu o curso para sua formação profissional. Ela mencionou que muitos antropólogos e pesquisadores realizavam pesquisas em sua comunidade sem dar retorno e publicavam os resultados sem consultar os moradores, o que gerava constrangimento. “Algumas pesquisas chegaram a atrapalhar a nossa luta. Então, o meu interesse em estudar antropologia é fazer com que essas pesquisas voltem aos territórios e para que nós da comunidade tenhamos autonomia sobre elas. Afinal, são coisas escritas sobre nós, por que não serem escritas também por nós, indígenas?”
Fabiana comentou sobre a importância de estudar antropologia. Segundo ela, muitos territórios indígenas não são demarcados e homologados, e um antropólogo da própria região pode facilitar esse processo. “Ter um antropólogo indígena que já conhece a história do povo facilitaria muito a luta”, explica. “Irei ajudar a analisar as pesquisas que chegam ao território, pois muitos projetos podem chegar com um discurso muito bonito, mas por detrás são prejudiciais para o território. Então, tendo alguém com conhecimento, evita que a comunidade entre em certas armadilhas de pesquisadores.”
Para entrar em contato com o Memórias do Sul da Bahia, envie sua mensagem para o e-mail: contato@memoriasulbahia.com.br.