Por Fernanda Macedo
– O Banco Royal Charlotte, uma das áreas mais desconhecidas do fundo do mar na costa brasileira, bem próxima a Porto Seguro, é atualmente alvo de investigação do grupo de pesquisa em Geologia e Geofísica, da Universidade Federal do Sul da Bahia.
Considerado o melhor ponto de pesca da costa baiana, o Royal Charlotte se localiza ao norte do Banco dos Abrolhos, entre o município do Prado e a foz do rio Jequitinhonha. Com aproximadamente 100 quilômetros de extensão e uma profundidade que varia entre 30 e 3.000 metros, traz uma rica biodiversidade marinha e potencial econômico.
A presença massiva de cardumes na região é explicada pela descoberta de bancos de rodolitos e recifes de corais. Os rodolitos, estruturas calcárias semelhantes aos corais, são essenciais na construção de recifes de corais em regiões tropicais e estão espalhados por vários pontos da costa brasileira. Segundo a equipe da pesquisa, é na região do Banco dos Abrolhos onde está abrigado o maior banco contínuo de rodolitos do planeta.
Na mais recente expedição realizada na região, a bordo do navio Ciências do Mar IV, em 2023, a equipe descobriu na área a existência de uma infinidade de rede de canais submarinos formados durante a última era glacial, além do banco de rodolitos, Foram identificados diversos ecossistemas, como recifes de corais, florestas de macroalgas, bancos de calcárias, além de sinais de alta biodiversidade, com espécies ameaçadas e endêmicas do Brasil (ou seja, que só existem por aqui).
Ancorado em Recife, o Ciências do Mar IV é um Laboratório de Ensino Flutuante (LEF) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e pode ser utilizado por universidades do Nordeste com cursos de ciências do mar, sob a gestão da UFPE. “O nosso objetivo principal é o reconhecimento geológico do banco, que é uma das partes da plataforma continental das quais quase não temos conhecimento nenhum sobre a origem, do ponto de vista geológico”, explica o geólogo Caio Gabrig Turbay, do Centro de Formação em Ciências Ambientais (CFCAM), um dos coordenadores da pesquisa.”
Turbay explica que a rede de canais identificada em 2023 já tinha sido sinalizada em uma expedição anterior do grupo, no ano de 2022, mas inicialmente foram localizados apenas dois deles: “O que antes pareciam ser apenas dois canais se mostrou uma infinidade de canais submarinos no fundo do banco”.
Também em 2023, em artigo publicado, foi feita uma investigação com
Outro tema abordado pelo grupo são os fluxos pelos quais os rios trazem material sedimentar lamoso até a costa. Os cientistas identificaram a origem dos sedimentos trazidos pelos rios até o mar na região e já publicaram um artigo sobre o tema.
O estudo revelou que, até onde se sabe, o rio Jequitinhonha é a principal fonte de sedimentos para a plataforma marinha interna até a altura de Porto Seguro. Já o rio Buranhém contribui com sedimentos principalmente durante a passagem de frentes frias vindas do sul, provavelmente afetando a plataforma marinha ao sul de Porto Seguro.
Turbay explica que o impacto dessas lamas no ambiente, dependendo dos materiais trazidos do continente, pode afetar diretamente os alimentos e a economia da região: “Culturalmente, consumimos muitos frutos do mar, especialmente peixes e crustáceos ligados a ecossistemas recifais. Metais pesados e poluentes se acumulam na cadeia alimentar, com o ser humano como consumidor final”.
Ele também comenta que a pesquisa tem sido desafiadora e espera que a divulgação dos achados e análises colabore para propiciar mais recursos para o trabalho: “Os desafios são múltiplos, nossa carência de equipamentos na Universidade; ainda estamos muito desfasados de equipamentos básicos, e isso representa uma luta tanto interna, quanto externa”.
O trabalho também tem servido para os pesquisadores documentarem os resultados da intensa pressão humana que a região sofre, por conta dos resíduos lançados nos rios e do turismo predatório, além de pesca descontrolada. “Precisamos de mais tempo e investimento”, resume Turbay. Segundo ele, este ano ainda não houve expedições, pois o navio Ciências do Mar IV não recebeu o repasse de verbas federais, impossibilitando as operações.