Por Luan Santos Braga
– Uma equipe do Laboratório de Recursos Pesqueiros e Aquicultura (Lapaq), da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB), apresentou os primeiros resultados de um projeto que visa investigar como os Resíduos Sólidos Antropogênicos (RSA) – termo técnico que os pesquisadores utilizam para denominar o lixo marinho – afetam as atividades pesqueiras em Coroa Vermelha, distrito de Santa Cruz Cabrália.
“Nosso objetivo é entender a origem, composição e distribuição desses resíduos nas áreas de pesca da região”, destaca o oceanólogo Leonardo Evangelista Moraes, que liderou o estudo. Segundo o pesquisador, as praias da região entre Porto Seguro e Cabrália têm enfrentado problemas graves de poluição, com resíduos como canudos, sacolas plásticas e embalagens de alimentos sendo descartados inadequadamente na areia e na beira-mar, além da presença de contaminação por esgoto.
Moraes explica que, além disso, a barreira de corais do Recife de Fora, na região de Coroa, funciona como uma proteção natural, que impede que esses resíduos se dispersem para o alto-mar, concentrando-os na plataforma costeira. Resíduos de origem estrangeira, como garrafas e embalagens, também são encontrados na região.
Uma amostra preliminar coletada pelo grupo identificou 1.252 itens, dos quais 1.191 eram plásticos, predominando as cores branca e transparente. O estudo abrange a coleta e triagem dos resíduos, principalmente obtidos na plataforma costeira por meio de rede de arrasto, a partir da colaboração com um pescador local. Para Moraes, os resultados são preocupantes.
Luena Maria, pescadora pataxó que atua em Coroa Vermelha, diz que ela e seus companheiros estão alarmados com a persistente presença de plásticos e outros detritos nos locais de pesca tradicionais, afetando diretamente os seus meios de subsistência. Depois de 26 anos de trabalho como pescadora, ela hoje é presidente da Associação dos Pescadores Indígenas Pataxó de Coroa Vermelha (Apip).
Para Luena, seria interessante criar um projeto com os pescadores que já recolhem lixo no mar. A ideia é que eles fossem incentivados com recompensas, como cestas básicas ou óleo para a embarcação, por exemplo. Além disso, os pescadores poderiam usar uma rede própria artesanal nas embarcações para armazenar o lixo coletado durante a pesca. Moraes avalia que esse seria um projeto interessante, apesar das dificuldades de implementação prática, devido à falta de apoio aos pescadores na região.
“Em Coroa Vermelha, a maioria das pescarias dura de dois a três dias ou acontece durante a madrugada, retornando pela manhã. Com essa rede, os pescadores poderiam juntar todo o lixo encontrado, como latas de óleo e sacolas, ajudando ainda mais na limpeza do mar. Acho que isso seria muito útil e motivador”, destaca Luena.
A pesquisa do Lapaq-UFSB pretende fornecer dados detalhados para apoiar políticas públicas e práticas de gestão ambiental mais eficazes. A expectativa é que esses resultados ajudem a mitigar os impactos da poluição nos ecossistemas marinhos e na economia local.
Moraes observa que, devido ao papel crucial do mar para a vida de muitas famílias da Coroa Vermelha, especialmente nos setores de turismo e pesca, a poluição causada por esses resíduos estudados pela pesquisa tem gerado perdas econômicas significativas. A pesquisa do grupo também aponta que os “resíduos sólidos antropogênicos” são um problema global, já que podem ser transportados por ventos e correntes marinhas, causando impactos mesmo em áreas distantes das fontes de poluição.
Em pesquisa anterior, equipe da qual participou o professor Leonardo Moraes já havia constatado que 94,2% dos resíduos encontrados nas praias de Porto Seguro e região são compostos de plástico.