Por Kaylane Oliveira
– Uma novidade no campo das artes regionais vem acontecendo desde 2023: estudantes da Universidade Federal do Sul da Bahia criaram a primeira exposição artística 100% negra e indígena de Porto Seguro e região. A Ybryda é uma iniciativa cultural que, segundo seus criadores, promete transformar o cenário artístico sul baiano a partir da valorização dos materiais artísticos das comunidades originárias e negras da região de Porto Seguro.
A necessidade de um acervo negro e indígena surgiu a partir da constatação da ausência e invisibilidade desse debate no meio artístico. “Porto Seguro, Santa Cruz Cabrália e outras cidades dessa região extremo sul baiana possuem diversas comunidades originárias e negras, que às vezes não são convidadas para expor seus materiais artísticos e intelectuais em eventos de arte e cultura nos municípios”, afirma Êmydyô, idealizador do evento. “Não é uma surpresa que o Estado local não concentra o mínimo de seus esforços na promoção da arte e cultura na cidade, e, quando o fazem, acontece de uma forma totalmente estereotipada e elitizada, não alcançando as comunidades marginalizadas. Por isso, hoje, a nossa maior dificuldade é entender como manter o projeto de maneira sustentável, sem financiamento ou olhar governamental.”
A ideia da exposição surgiu de uma feira de artes organizada por Êmydyô e Luna Carvalho junto ao Festival Estudantil de Audiovisual (F.EST.A,(evento ligado ao projeto de extensão da UFSB “Imagina! Circuito de Audiovisual”), em outubro de 2023. Nessa feira não havia o recorte racial para o conjunto dos artistas. O nome Ybryda vem da edição inicial do projeto, que consistia em hibridizar a feira de artes: os artistas poderiam expor seu material em mesas ou por meio de QR Codes, em painéis dispostos na feira.
A partir da segunda edição, que aconteceu no campus da UFSB em Porto Seguro, em dezembro de 2023, a Ybryda passou a adotar um enfoque inclusivo, expondo 20 obras de artistas visuais, sendo todos negros e indígenas, incluindo artistas convidados.
“A equipe Ybryda é 100% composta por corpos dissidentes, por isso, não tem como, todo o projeto não estar ligado a objetivos que nós almejamos durante toda nossa trajetória. Isso inclui a promoção da inclusão e da valorização desses corpos que geralmente são marginalizados e como dito anteriormente, no território de Porto Seguro, muito invisibilizados em consequência do turismo predatório da cidade e a Ybryda pode ser um lugar para essas comunidades, destacando suas contribuições sociais, culturais e artísticas”, diz Êmydyô, enfatizando o compromisso da exposição com a igualdade, diversidade e o acesso.
Atualmente a equipe Ybryda é formada por artistas e produtores culturais, sendo: Êmydyô, Pacheco, Juliana Ribeiro, Luna Carvalho, Ianina, Fierce, Erick Richards, Raquel Barbosa, Uriel Silva, Abará e Anthony Cainaã.
A Ybryda tem como expectativa acontecer em diversos lugares, simultaneamente ou não. Este ano existe previsão para outras edições e uma delas será na casa de cultura Casa Preta em Cachoeira (BA).